As nove pessoas, sendo duas idosas e uma criança, ficaram sem água, energia elétrica e sinal de celular por três dias e tiveram que usar água da piscina para tomar banho. Moradora de São Carlos registra como ficou Camburi depois da chuva no Litoral Norte
Quatro dias após o temporal que destruiu São Sebastião, uma família de São Carlos (SP) que estava na praia de Camburi conseguiu voltar pra casa, na madrugada desta quinta-feira (23), depois de uma força-tarefa de moradores que desobstruiu as vias que davam acesso à rodovia. (veja o vídeo acima feito por uma moradora que estava no local).
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As nove pessoas, sendo duas idosas e uma criança, ficaram ilhadas sem água, energia elétrica e sinal de celular por três dias e tiveram que usar água da piscina de um dos vizinhos para conseguirem tomar banho.
A praia de Camburi fica entre a Barra do Sahy e Boiçucanga, uma das áreas mais atingidas pela chuva devastadora que atingiu o Litoral Norte entre o sábado (18) e o domingo (19). Veja como ajudar com doações na região.
“Foi uma situação de desespero. Uma coisa que eu não desejo pra ninguém, é um sentimento de impotência muito forte, porque não tem o que fazer. A gente estava com minha tia que é doente, tem atrofia e não anda, minha avó de 87 anos e com uma criança de 6, todos sofreram demais porque ficava sem força, sem água, pegando água da piscina do vizinho pra tomar banho, se virando com água da chuva”, contou Tatiane Próspero.
Eles iniciaram a volta pra casa na quarta-feira (22) e chegaram em São Carlos na madrugada da quinta, em uma viagem que durou 10h30. A moradora registrou em vídeo um congestionamento por conta de um deslizamento de terra na Serra de Maresias e a passagem por um trecho que a água de uma cachoeira invada a rodovia. Veja abaixo:
Moradora de São Carlos registrou alguns trechos da viagem de volta do Litoral Norte
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Momentos de terror
A família chegou ao litoral na sexta-feira (17). A viagem para Camburi era rotineira, já que o pai de Tatiane tem a casa de praia há 10 anos no litoral.
Segundo ela, a chuva começou por volta das 20h do sábado (18) e já parecia que ia ‘cair o mundo’ por conta da força. Mas foi somente durante a madrugada, que ela e a família se deram conta do início da destruição.
“A janela do meu quarto abriu sozinha com a força do vento. Eu tentei fechar e não consegui, aí meu pai veio fechar pra mim. A hora que ele chegou, começou a desbarrancar tudo na nossa lateral esquerda, todas as árvores. Como os postes caíram, a gente viu pegando fogo nos fios. E um barulho assustador, sabe? Muito forte”, contou.
Tragédia em São Sebastião: Deslizamento de terra divisa entre Camburi e Boicucanga
CREATIVE PRODUÇÕES/ Cristian Santos
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Nesse momento, segundo ela, começou a luta pela sobrevivência. “O vizinho do lado começou a pedir ajuda pra salvar o cachorro que estava ilhado na rua debaixo, junto com a filha dele. Meu pai foi ajudar, foi tenso. Quando voltou, os vizinhos pularam no quintal de casa pra pedir socorro porque estava desbarrancando tudo nas laterais de uma maneira muito forte, eles tavam tentando fugir”, relembrou.
“Tinha um cara com a filha e a esposa. Depois pulou outro cara que começou a perder tudo com a esposa. Foi um tormento só! Aí pediram ajuda pra salvar um senhor que estava no morro porque a casa dele estava desbarrancando e ele também não andava. Tava caindo tudo de um lado, do outro, e a gente precisava ajudar a salvar as pessoas, enfim, uma tortura”, completou.
Tamanho da destruição
Escavadeira é usada para remover lama acumulada em rua da Vila Sahy, em São Sebastião
Fábio Tito/g1
Tatiane contou que somente quando amanheceu ela e a família começaram a ter noção da realidade do estrago.
“A gente começou a ver, começou a assustar. Aí perdemos sinal de celular, ficou todo mundo sem notícia. Ficamos sem energia elétrica e sem água durante três dias direto. Os alimentos estavam faltando nos locais porque é muita gente querendo comprar comida, filas gigantescas no mercado. Cena de guerra”, detalhou.
“Mas mesmo assim a gente não tinha noção da situação. A gente começou a ter mesmo quando começaram a chegar as informações porque, até então, cada um falava de um jeito”, afirmou.
Morador leva baldes de água por rua coberta de lama na Vila Sahy, em São Sebastião, após deslizamentos que atingiram a comunidade
Fábio Tito/g1
Ela disse que só conseguiu se comunicar com o restante dos parentes que estava no interior na manhã da segunda-feira.
“Era seis horas da manhã, a gente foi no Centro pra tentar conseguir algum sinal. Uma adega liberou o Wi-Fi e aí tinha mais de 200 pessoas ali dando notícia pros familiares, querendo subir [a serra], só que não tinha como porque não estava liberada a rodovia”, contou.
Ajuda para voltar pra casa
Tatiane disse que ela e a família conseguiram sair de Camburi com a ajuda dos vizinhos que fizeram uma corrente de solidariedade, já que todos estavam ilhados.
Desmoronamento de terra em Camburi, Litoral Norte, após as chuvas
Tatiane Próspero/Arquivo Pessoal
“”Um amigo do meu pai tinha uma máquina dessas escavadeiras, aí os outros vizinhos se juntaram porque estava todo mundo ilhado ali. Muita gente perdeu casa, carro, o pessoal precisava ter acesso pra saber qual a real situação das casas. Aí a gente fez um mutirão, todo mundo começou a ajudar pra tirar tudo, terra, cortar árvores, pra ajudar a sair”, relembrou.
“Graças a Deus a gente saiu ileso. Tá todo mundo feliz por estar em casa, risco de chuva zero. agora é pensar nos moradores, foi muito bonito ver a solidariedade das pessoas, uma ajudando a outra, muita gente doando as coisas pro pessoal que perdeu tudo”, completou.
“A gente subiu por uma pista que estava desabando. Estávamos parados na Serra de Maresias e começou a desabar tudo de novo. Aí vai o exército tirar a terra pra todo mundo subir. Foi uma coisa muito tensa”.
Vizinhos juntos após chuva que destruiu São Sebastião, no Litoral Norte
Tatiane Próspero/Arquivo Pessoal
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