Em vídeo que viralizou na internet, três colegas de curso em Bauru (SP) disseram que a mulher deveria ‘estar aposentada’. Membros do poder Executivo condenaram caso de intolerância. Ministros dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, à esquerda; e da Educação, Camilo Santana, à direita, se posicionaram contra etarismo sofrido pela estudante em Bauru (SP)
MDHC/Reprodução
Os ministros dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida; e da Educação, Camilo Santana, foram às redes sociais para repudiar as falas contra uma estudante que foi hostilizada por três colegas de turma em uma universidade particular de Bauru (SP) pelo fato ter mais de 40 anos.
No vídeo publicado nas redes sociais do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, o ministro Silvio Almeida se solidariza com a estudante universitária da Unisagrado (veja o vídeo abaixo).
“O etarismo, assim como o sexismo, a LGBTfobia e o racismo, são ameaças à nossa democracia, pois alimentam os discursos de ódio, especialmente nas redes sociais, gerando diversos tipos de violência”, declarou.
O ministro Camilo Santana reforçou que “é lamentável que tenhamos que nos manifestar para defender um direito fundamental básico, que é o direito à Educação, cláusula pétrea da Constituição brasileira”. O titular da Educação frisou que o conhecimento acolhe e liberta.
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No vídeo que viralizou na internet, três estudantes da Unisagrado de Bauru (SP) debocham de Patrícia Linares, que também estuda na instituição, pelo fato de ela ter “40 anos”. O caso gerou comoção entre alunos e reacendeu o debate sobre o preconceito com pessoas mais velhas.
Na postagem, uma das universitárias aparece gravando um vídeo para uma rede social enquanto conversa com as outras duas. No vídeo, ela ironiza: “Gente, quiz do dia: como ‘desmatricula’ um colega de sala?”. Logo depois, outra responde: “Mano, ela tem 40 anos já. Era para estar aposentada”. “Realmente”, concorda a terceira.
Em seguida, a estudante que grava o vídeo diz: “Gente, 40 anos não pode mais fazer faculdade. Eu tenho essa opinião”. Elas chegam a dizer que a mulher “não sabe o que é Google”. (Veja o vídeo abaixo.)
Estudantes de uma universidade em Bauru debocham de colega de 40 anos; veja o caso
Em virtude das falas de intolerância das colegas à Patrícia, o ministro Silvio de Almeida reforçou no comunicado que “nunca é tarde para aprender”.
“Uma mulher que, assim como outras milhões de brasileiras, acaba por colocar em segundo plano a sua própria formação e carreira pra cuidar da família e das atividades de casa. A ela e a tantas outras mulheres nós reforçamos: nunca é tarde pra aprender e é sempre tempo pra respeitar.”
Patrícia Linares foi vítima de etarismo por três colegas de sala em uma universidade particular de Bauru (SP)
Arquivo pessoal
‘Sonho não morreu’
Patrícia, que completou 45 anos nesta terça-feira (14), revelou que, durante muito tempo, adiou o sonho de cursar uma graduação, mas que, agora, finalmente conseguiu realizá-lo.
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“É um sonho de adolescência que nunca pude realizar porque tive várias interrupções de estudo. E agora também não vou desistir, o sonho não morreu dentro de mim”, conta.
Em vídeo, universitárias de Bauru debocham de colega de 44 anos por causa da idade
Ao g1, a universitária também relembrou o momento em que descobriu o vídeo no qual é debochada pelas três colegas de sala. A caloura de biomedicina disse que soube da hostilização na noite de quinta-feira (9), dentro da sala de aula, enquanto se preparava para apresentar um trabalho.
“Nós tínhamos um trabalho de anatomia superdifícil para apresentar. Durante o intervalo da aula, fui para o banheiro. Tinha várias pessoas olhando para mim. Pensei: ‘Meu Deus. O que será que está acontecendo?'”, conta.
“Antes de eu voltar para a sala, duas pessoas, que não sei quem são, me chamaram. Perguntaram se eu era a Patrícia e falaram: ‘Sabia que tem um vídeo seu rolando na faculdade?’. Fiquei preocupada. Falei: ‘Ué, será que alguém me filmou?’. Falaram que não. ‘São três meninas que estão falando mal de você’.”
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No mesmo dia em que soube do vídeo, a estudante recebeu apoio de colegas de faculdade, que entregaram flores, cartas e chocolate a ela.
Patrícia Linares, vítima de etarismo, segura as flores presenteadas por colegas que resolveram prestar homenagem a ela
Arquivo pessoal
O que diz a universidade
De acordo com a assessoria da universidade, as três mulheres são maiores de idade. Ao g1, a estudante Bárbara Calixto disse que as três estão arrependidas do que falaram e que o vídeo foi uma “brincadeira de mau gosto”.
Ela contou que as imagens foram postadas inicialmente no “close friends” do Instagram (recurso que permite que o usuário selecione seguidores específicos), mas acabou saindo da roda de amigos e viralizou.
“Nunca foi na intenção de dizer que pessoas de mais idade não podem adquirir uma graduação, pois não tenho esse pensamento. Foi uma fala imprudente e infeliz que tomou uma proporção que não imaginávamos”, disse uma das estudantes.
Além de Bárbara, as outras jovens que aparecem no vídeo são as estudantes Beatriz Pontes e Giovana Cassalatti. As ofensas relacionadas ao etarismo geraram indignação nas redes sociais. Segundo especialistas, as três alunas podem responder na Justiça pelo episódio.
Universitárias de Bauru (SP) debocharam de colega de 40 anos em vídeo
Reprodução
A universidade publicou uma nota na rede social horas depois que o vídeo viralizou, mas sem fazer menção direta ao caso.
No comunicado, afirma que não compactua com qualquer tipo de discriminação e que acredita que “todos devem ter acesso à educação de qualidade, desde pequenos até quando cada um quiser, porque educação é isso: autonomia”.
A publicação também diz que “as oportunidades não são iguais para todo mundo em todos os momentos da vida. Sabemos, por exemplo, que os pais, muitas vezes, abrem mão da sua formação para oferecer as melhores oportunidades para seus filhos e, somente depois, optam por se profissionalizarem”.
Ao g1, a assessoria da universidade disse que está tomando medidas em relação às universitárias envolvidas no caso. “Mas por respeito a todos os envolvidos estamos trabalhando no âmbito institucional e não divulgaremos”, disse.
“O Unisagrado reitera que não compactua com práticas discriminatórias e ofensivas de qualquer natureza e reforça a necessidade de combatê-las, repudiando veementemente todo tipo de manifestação que demonstre apoio a quaisquer atos de violência, física ou psíquica”, diz o comunicado.
Universidade publicou nota de posicionamento horas depois
Instagram/Reprodução
Preconceito com idade
Etarismo é o nome dado à discriminação e ao preconceito relacionado com a idade de uma pessoa. Essa repulsa pode resultar, inclusive, em violência verbal, física ou psicológica.
No dia a dia, o etarismo pode se manifestar de diferentes maneiras: como piadas, infantilização ou atitudes que geram exclusão da vítima. No meio profissional, esse preconceito também se mostra em postagens de candidaturas de vagas de emprego com limite de idade ou em frases como “você está velho para isso”.
As denúncias de violações de direitos humanos podem ser feitas de maneira anônima pelo Disque Direitos Humanos, o Disque 100.
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Ministros da Educação e dos Direitos Humanos repudiam etarismo contra estudante com mais de 40 anos: ‘Nunca é tarde para aprender’

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