Mais de 80 trabalhadores foram resgatados de duas fazendas de arroz no interior de Uruguaiana em operação na sexta. Eles trabalhavam fazendo corte manual do arroz e aplicação de agrotóxico. Um dos trabalhadores resgatados conta que a falta de equipamentos de proteção causou lesões em suas mãos e em seus pés
Reprodução/RBS TV
Parte dos mais de 80 trabalhadores resgatados de regime análogo à escravidão em Uruguaiana, na Fronteira Oeste do RS, receberam atendimento do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) na tarde desta segunda-feira (13). O órgão não divulgou quantos dos 82 homens resgatados estiveram no local, mas afirmou que já os cadastrou para receber os valores rescisórios a que têm direito.
Os trabalhadores foram resgatados de duas fazendas de arroz no interior do município em uma operação realizada na sexta-feira (10). Eles trabalhavam fazendo corte manual do arroz e aplicação de agrotóxico.
Segundo os órgãos de fiscalização, os resgatados não utilizavam equipamentos de proteção, caminhavam à exaustão antes de chegarem à lavoura e precisavam levar de casa água e comida, que não tinham local próprio para armazenamento. Um dos principais problemas relatados é a exposição ao sol.
“Era terrível aquele sol. Tu olhava as nuvens e ficava contando os segundos para ele parar no sol, para poder ficar um pouco na sombra. Mas eles não deixavam tu parar para descansar. Jogava uma água na cara e continuava”, diz um dos trabalhadores resgatados, que falou com a RBS TV nesta segunda e não quis se identificar.
Dos 82 resgatados, 11 são adolescentes. Ao todo, 54 pessoas estavam na estância Santa Adelaide e 28, na São Joaquim, segundo a investigação. O MTE, em conjunto com a Polícia Federal (PF) e com o MPT, trabalha para identificar quem são os empregadores dos trabalhadores.
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OUTRO CASO: mais de 200 foram resgatados em fevereiro
Segundo outro homem resgatado, era comum haver necessidade de dividir comida com outros trabalhadores, já que as marmitas, muitas vezes, não resistiam ao calor e estragavam. A água a que eles tinham acesso também esquentava.
“A gente passava sede. Ia comer a comida e estava estragada. Se não estava estragada, estava com formiga. Se faltava, a gente pegava um pouco de cada um, pra não passar mal. [Quando] tinha falta de ar, pegava uma água, às vezes da torneira quente, fervendo”, relata.
Os trabalhadores foram contratados por um agenciador de mão de obra, preso em flagrante pela Polícia Federal. Ele foi liberado no fim de semana, após pagamento de fiança. O homem, que não teve o nome divulgado, não tinha empresa constituída e exercia o recrutamento de maneira informal.
“Como é caso de terceirização, a gente precisa saber se a responsabilidade é do produtor rural que explora essa atividade econômica do cultivo do arroz ou se é a empresa contratada para semear, controlar e cultivar esse arroz”, explica o auditor fiscal do Trabalho Vitor Ferreira.
Os proprietários da estância São Joaquim disseram que a propriedade está arrendada para uma pessoa que faz o plantio do arroz no local, que não sabiam que isto estava ocorrendo e condenaram o que ocorreu. “Jamais imaginamos estarmos envolvidos em uma situação dessas”. O g1 tenta contato com os proprietários da estância Santa Adelaide.
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