O grupo chegou em São Sebastião no último sábado (18) e ficou hospedado em um chalé em Boiçucanga, uma das áreas mais afetadas. Turistas de Piracicaba relatam terror no Litoral Norte após temporais e destruição
Ana Paula Gomes/Arquivo pessoal
Quatro jovens de Piracicaba (SP) relatam momentos de pavor durante uma viagem que seria para diversão e descanso durante o Carnaval. Elas foram para São Sebastião, no Litoral Norte, e viram de perto a destruição das chuvas.
A assistente de produção audiovisual Ana Paula Gomes estava com a namorada e duas amigas. O grupo chegou em São Sebastião no último sábado (18) e ficou hospedado em um chalé em Boiçucanga, uma das áreas mais afetadas.
“No sábado à noite, por volta das 19h, começou a chuva. A gente queria sair mas não tinha condições porque estava muito forte já de início. E foi assim todo tempo, não diminuía e nem aumentava, apenas choveu bastante por muito tempo, sem trégua”, conta Ana.
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Na manhã seguinte, as jovens acordaram e notaram que estavam sem internet Wi-Fi e sem rede no celular, além de sem energia elétrica no chalé.
“Por volta das 10h achamos que a chuva tinha parado, e começamos a nos arrumar pra sair. Porém, como a força nem a rede ainda tinham voltado, elas [as amigas] foram averiguar com outras pessoas do chalé se alguém sabia de algo, e foi aí que falaram que a situação tinha sido feia e que tinham caído duas barragens ali no nosso entorno, ou seja, estávamos ilhados”, relatou.
“Aos poucos fomos sabendo, por pessoas que moravam por ali, o que estava rolando, e aí que vimos que tinha sido o pior imaginável.”
Segundo Ana, o chalé em que estavam hospedadas ficava na estrada entre Maresias e a praia de Boiçucanga. “No meio disso tudo estava um caos e ali a gente não tinha acesso a nada e ninguém passava nem pra lá nem pra cá”, contou.
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Segundo ela, a falta de informação foi deixando o grupo desesperado e elas não sabiam se algo já estava sendo feito para “consertar” a situação.
“Quanto mais o tempo passava, mais o desespero batia, porque a gente não tinha ideia de como estava tudo e de quando ia normalizar as coisas.”
No final do domingo, a rede de telefone foi voltando e as quatro conseguiram avisar as famílias o que tinha acontecido e que estavam bem.
Racionamento de água e comida
Segundo a assistente de produção audiovisual, além do terror de não saber o que estava acontecendo o quando conseguiriam ir embora, ela, a namorada e as amigas também tiveram que racionar comida e água durante os dias que ficaram no Litoral Norte.
“Fomos totalmente despreparadas naquele dia e não levamos comida nem água pra viagem. A gente tinha um pouco de amendoim e dois pacotes de bolacha”, relatou.
Já no domingo, as pessoas que estavam hospedadas no chalé fizeram uma reunião para trocar informações sobre o que estava acontecendo, segundo Ana. “A previsão naquele momento era de que ficaríamos ilhados por uns 3-4 dias.”
Na segunda-feira pela manhã, as jovens combinaram de tentar ir em um mercado próximo para estocar comida. “Minhas duas amigas foram. Para chegar até lá era preciso passar por uma ‘ponte’ que tinha quebrado, e que no lugar tinham troncos de uma árvore que tinha caído. Para auxiliar tinha uma corda imitando uma tirolesa pro pessoal ir segurando”, relatou.
Jovens de Piracicaba tiveram que racionar água e comida e passar por ponte quebrada para ir a mercado no Litoral Norte
Ana Paula Gomes/Arquivo pessoal
“Elas falaram que foi a cena mais triste que viram, a cidade toda na lama, muito caos, gente ainda tentando tirar familiares dos escombros.”
Segundo ela a “ponte” improvisada foi desativada pouco depois por conta do risco.
Também na segunda-feira, a água da caixa do chalé acabou, segundo Ana. “Tivemos que nos virar pra conseguir fazer o básico. Todo mundo pegando água da piscina pra esquentar e tomar banho. Fizemos um macarrão pra comer com uma água que pegamos de uma cachoeira.”
No dia seguinte, terça-feira, as jovens acordaram e perceberam que já tinham como sair de lá, então arrumaram as coisas e foram embora. Ana conta que o grupo estava confortável lá, mas que o medo de chover de novo era grande.
“Conforme ia saindo da cidade e vendo toda a situação, não dava pra acreditar. Muita coisa para ser refeita, muita lama por todo o lado, teve um espaço que abriu até uma cachoeira de tão forte que foi”, lamentou.
A volta para casa
Apesar de todo terror, Ana conta que a volta para Piracicaba foi tranquila. Em alguns trechos de pista na saída de São Sebastião elas precisaram tomar mais cuidado por conta da destruição.
“Mas o pior foi em Caraguatatuba, que era a única estrada que estava aberta. Assim que liberou virou um caos geral, porque era gente vindo tanto de Caraguatatuba, quanto de Ubatuba e São Sebastião”, contou.
Mesmo assim, elas conseguiram viajar de volta com tranquilidade e chegaram em Piracicaba na noite de terça-feira.
Onde foi a tragédia no Litoral Norte de SP
Gabriel Wesley/Arte g1
4º dia de buscas
Equipes de resgate prosseguem nesta quarta-feira (22) a busca por vítimas após o temporal que devastou o Litoral Norte de São Paulo no fim de semana. O balanço da Defesa Civil aponta 48 mortes (47 em São Sebastião e uma em Ubatuba).
Os trabalhos de buscas acontecem especialmente em bairros da costa sul da cidade de São Sebastião, como a Vila do Sahy, área que concentra a maioria das vítimas da tragédia, e Juquehy.
Na terça-feira voltou a chover forte em São Sebastião e as buscas chegaram a ser suspensas momentaneamente por questões de segurança devido ao risco de novos deslizamentos de terra.
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Turistas de Piracicaba relatam dias de pânico no Litoral Norte: ‘quanto mais o tempo passava, mais o desespero batia’

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